Hebreus 6:4-6(exegese)

 A primeira observação que deve ser feita a respeito de Hebreus 6.4-8, é que, trata-se, de uma “difícil e importante passagem” sobre a aliança de Deus com o seu povo.A razão dessa dificuldade está no fato de o autor da epístola mencionar especificamente o aspecto fenomenológico da religião nessa perícope.


Os “.” de Hebreus 6.4-8 eram pessoas que “abandonaram esta assembleia dos santos”. Eram pessoas não-regeneradas, não-eleitas, incrédulas que durante algum tempo fizeram parte de uma igreja visível, mas que apostataram. Muito se questiona acerca de como pessoas ímpias puderam “provar” de vários benefícios, como por exemplo:

1) do dom celestial; 2) da participação comum do Espírito Santo; 3) da boa palavra de Deus; e 4) dos poderes do mundo vindouro. Como tais pessoas puderam desfrutar, em alguma medida, de bênçãos destinadas àqueles que foram os beneficiários diretos do sacrifício substitutivo de Cristo?


O “dom celestial” lembra o dom celestial do maná, que foi dado por Deus ao seu povo quando este se encontrava no deserto (Êxodo 16.15). Em Neemias 9.15 é dito que o pão celestial foi dado aos israelitas “na sua fome”. Por sua vez, a referência àqueles que “se tornaram participantes do Espírito Santo” ecoa a experiência dos peregrinos do deserto, que “tinham extensiva interação com o Espírito de Deus” como é testemunhado em Neemias 9.20: “E lhes concedeste o teu bom Espírito, para os ensinar; não lhes negaste para a boca o teu maná; e água lhes deste na sua sede”.

Depois de uma análise interpretativa analisaremos exegeticamente o texto de hebreus 6:4-6.

É impossível, pois, que aqueles que uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se tornaram participantes do Espírito Santo, e provaram a boa palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro, e caíram, sim, é impossível outra vez renová-los para arrependimento, visto que, de novo, estão crucificando para si mesmos o Filho de Deus, e expondo-o à ignomínia.” (Hebreus 6.4-6)

O autor continua com um exemplo extraído da agricultura:

Porque a terra que absorve a chuva que freqüentemente cai sobre ela e produz erva útil para aqueles por quem é também cultivada recebe bênção da parte de Deus; mas, se produz espinhos e abrolhos, é rejeitada e perto está da maldição; e o seu fim é ser queimada.” (Hebreus 6.7-8)

Nessa metáfora agrícola, os condenados no juízo final são comparados à terra que não produz vegetação ou fruto útil, mas só espinhos e abrolhos. Quando lembramos outras metáforas bíblicas em que o bom fruto é sinal de verdadeira vida espiritual e a ausência de frutos denuncia os falsos crentes (por exemplo: Mt 3.9-10; 7.15-20; 12.33-35), já temos uma indicação de que o autor está falando de pessoas cuja prova mais confiável da sua condição espiritual (o fruto que produzem) é negativa, sugerindo que o autor fala de pessoas que não são verdadeiramente cristãs.

Será mesmo que a salvação se perde em hebreus 6:4-6?

1. ἅπαξ (hápax) significa “uma vez por todas”, vem de hapas – completo, por inteiro.

2. φωτισθέντας (photistentas) significa “iluminados – aoristo particípio passivo – tendo sido iluminados. Ocorre cerca de 11 vezes no NT. Como em Jo 1:9; Ef 1:18; Hb 10:32. Então, hápax photistentas significa “iluminados por inteiro”. Ou seja, mostra a regeneração.

3. γευσαμένους (Geysamenos) significa “provaram” mas não é apenas “sentir um gosto”, mas comer também (At 10:10; 20:11; 23:14). É se servir, nutrir-se.

4. μετόχους (metochos) – significa “participantes”, designa associação, comunhão, usado em Lc 5:7; Hb 1:9: 3:1; 12:8). É usado cerca de 6 vezes no NT, 5 em Hebreus.

A continuação do texto nos mostra algo a mais....

Hb 6:5,6 - E provaram a boa palavra de Deus, e as virtudes do século futuro, E recaíram, sejam outra vez renovados para arrependimento; pois assim, quanto a eles, de novo crucificam o Filho de Deus, e o expõem ao vitupério.

Observe que a afirmação ...”e recaíram”.... o termo ali é παραπεσόντας (parapesontas). Designa alguém que passa ao lado, caminha paralelo a um caminho, sem de fato entrar totalmente no caminho. 

Basicamente o que o texto diz é que é impossível alguém provar plenamente a verdade e seguir um caminho paralelo ao caminho certo. Era isso que os judaizantes estavam fazendo, ao criar um caminho paralelo lançando fundamentos diferentes para a fé em Cristo (Hb 6:1), eles estavam incorporando Cristo no caminho que eles fizeram ao invés de andar no caminho de Cristo. O texto não trata de Cristãos que foram salvos por Cristo, mas de Judaizantes que usavam Cristo como algo a mais nos seus próprios caminhos. No versículo 9 vemos o autor demonstrando o contraste daqueles que estavam no caminho certo - “Mas de vós, ó amados, esperamos coisas melhores, e coisas que acompanham a salvação, ainda que assim falamos...”

Paulo Sérgio Soli Deo Gloria


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