Saul nunca foi regenerado(salvo)

 "Saul foi salvo?”, pergunta um dos nossos leitores. Isto é, Saul foi um crente profundamente decaído ou era da semente da serpente? Agostinho declara corretamente que Saul “certamente era réprobo” (Cidade de Deus, 17.6). Como primeiro rei de Israel, a iniqüidade de Saul é especialmente evidente em seus pecados contra o reino de Deus.

Dois pecados logo no começo do reinado de Saul levaram à sua perda do reino. Antes de uma batalha com os filisteus, Saul ofereceu o sacrifício antes do retorno de Samuel, contrariamente ao mandamento de Deus (1Sm. 13:8-14). Mais tarde ele desobedeceu a Jeová ao recusar matar todos os amalequitas e seus animais (cap. 15). Saul não queria reinar de acordo com a palavra de Deus, portanto, Deus tomou o trono dele e deu-o ao homem segundo o seu coração, Davi (13:14).

Saul foi “todos os seus dias inimigo de Davi” (18:29), pois sabia que ele o sucederia como rei. Duas vezes Saul tentou ferir a Davi com sua lança (18:11; 19:10). Ele tentou fazer com que os filisteus matassem-no na batalha (18:17, 25). Ele planejou capturar Davi quando esse deixasse a sua casa, executando-o em seguida (19:11-17). Davi escapou de Saul e então se escondeu nas florestas e cavernas (19:18ss.). Mesmo então Saul perseguiu a Davi, e tentou matá-lo. Tão grande era o ódio de Saul que qualquer um que parecesse favorecer a Davi era suspeito. Assim, Saul ordenou que Doegue, o edomeu, matasse 85 sacerdotes e suas famílias em Nobe (22:17-19), e Saul tentou até mesmo tirar a vida de Jônatas (20:33). Jônatas implorou a seu pai por Davi (19:4-7), e Davi por duas vezes poupou a vida de Saul (cap. 24, 26), mas após uma breve pausa Saul retomou seus esforços para assassinar Davi.

Saul viveu e morreu odiando a Davi, o homem segundo o coração de Deus. Lemos em 1 João 3:15: “Qualquer que odeia a seu irmão é homicida. E vós sabeis que nenhum homicida tem a vida eterna permanecendo nele”. Um dos últimos atos de Saul foi consultar uma feiticeira (1Sm 28), algo proibido na lei de Deus (Dt. 18:14). Ele saiu desse mundo através de suicídio, como Aitofel, Zimri e Judas Iscariotes, com o julgamento de Deus sobre ele (1 Crônicas 10:13).

Mas Deus “não lhe mudou o coração em outro”, fazendo de Saul “outro homem” através disso (1Sm. 10:6, 9)? Sim, mas “outro coração” é diferente de “novo coração”. Aqueles a quem Deus dá um novo coração, ele faz com que andem em seus estatutos e guardem os seus juízos (Ez. 36:26-27). Saul não guardou os estatutos de Deus. Assim, ele nunca recebeu um novo coração. Deus deu outro coração a Saul, com o objetivo de equipá-lo para governar em seu ofício como rei. Saul começou a vida como um mero cidadão israelita, mas com o Espírito sobre ele profetizou (1Sm. 10:6-13) e foi capacitado para conduzir um exército à vitória, consolidando assim o seu reino (11:6-15).

  • O importante saber que Saul era um incrédulo para entendermos corretamente a narrativa de 1 Samuel 9-31, rejeitando a aplicação errônea da vida de Saul aos cristãos que caem. É também importante pela tipologia envolvida. Nos contínuos ataques assassinos de Saul contra Davi, vemos o ataque infernal de Satanás contra Cristo e o seu reino. Mas Deus defende e preserva a sua igreja! Essa preservação também guarda até mesmo o crente mais fraco de viver como Saul, em ódio contra Cristo, a quem Davi tipificava.
Em 1 Samuel 18.10 vemos descrito que, "no dia seguinte, o espírito mau da parte de Deus se apoderou de Saul"que começou a ter "manifestações proféticas" no meio da casa enquanto Davi tocava a harpa, como de costume... Mas adiante, no capítulo 19.23, é dito também que ele (Saul) "foi para Naiote, em Ramá e o Espírito de Deus veio também sobre ele, e ele ia caminhando e tendo manifestações proféticas até chegar a Naiote, em Ramá." (Versão Almeida Século 21) 

Todavia, sabemos pelo contexto de 1 Samuel que Saul nunca foi regenerado, isto é, nunca nasceu do Espírito. Assim como Balaão (Nm 22-24), Judas Iscariotes (Jo 6.70-71; At 1.15-26), Himeneu e Alexandre (1Tm 1.20) e Demas (2Tm 4.10), Saul é um grande exemplo de um falso crente e de que Deus usa descrentes muitas vezes na sua obra para propósitos específicos na vida dos verdadeiros crentes (veja como exemplo Mt 7.21-23)! É bem verdade que o Espírito Santo não se retira do verdadeiro cristão; entretanto, podemos, sim, entristecer o Espírito através de nossos pecados (Ef 4.30) e extingui-lo (1Ts 5.19), que é apagar a chama da sua presença em nós através da prática habitual do pecado, onde ficamos cauterizados e passamos a não mais sentir a sua presença e a alegria da salvação em Cristo Jesus, como aconteceu com Davi, quando pecou contra Deus e escreveu esta experiência no Salmo 51. 

Não obstante, quando é dito que o Espírito Santo se apoderou de Saul (10.6; 11.6), não significa que ele passou a habitar nele, pois se o Espírito Santo habita em alguém, logo esta pessoa foi regenerada e é um verdadeiro crente. Porém, com Saul não foi assim; antes, o Espírito Santo estava sobre ele ou vinha sobre ele em alguns momentos como em (11.6), mas não habitava permanentemente nele. Contudo, depois que o Espírito Santo não vinha mais sobre Saul porque Deus o rejeitou, vemos um fato curioso descrito em 1 Samuel 18.10 e no capítulo 19.23, onde no primeiro texto (18.10) Saul teve "manifestações proféticas" dentro de sua casa influenciado não pelo Espírito Santo, mas pelo espírito mau que vinha da parte do Senhor.  

Era como se Saul entrasse numa espécie de transe extático; ou como diz um chavão evangélico popular no meio pentecostal e neopentecostal - era como se Saul entrasse no mistério ou no "reteté" e começasse a pular, rodopiar, dançar, falasse em línguas "estranhas" e glorificasse a Deus nesse comportamento aparentemente inusitado; porém, visto como uma manifestação fervorosa por parte de alguns pentecostais e neopentecostais desatentos e sem discernimento espiritual. No entanto, Saul não fez tudo isso influenciado pelo Espírito Santo, mas pelo espírito mau; ou seja, pelo demônio! Já no segundo texto (19.23), Saul teve mais uma manifestação profética, dessa vez influenciado pelo Espírito Santo que veio sobre ele novamente. 

Em vista disso, o que podemos aprender com estas duas passagens de 1 Samuel?

(1) Nem toda experiência espiritual é oriunda do Espírito Santo; influenciada por ele.

(2) Nem toda experiência espiritual é oriunda do demônio; influenciada por ele.

(3) Algumas ou muitas experiências espirituais são de origem psicológica, tendo como influência o ambiente frenético e agitado, as pessoas ao redor tendo supostas experiências espirituais e pela indução das mesmas e do próprio pastor.
 
(4) A verdadeira experiência espiritual impinge a pessoa a se voltar mais para as coisas de Deus, isto é, produz fome por Deus, pela sua palavra, pela a oração e por uma vida mais piedosa.   

(5) Se a experiência espiritual não atrair a pessoa a uma vida mais profunda com Deus na oração, no estudo das Escrituras, no serviço cristão e numa vida piedosa, tal experiência espiritual é falsa e não veio de Deus. Ou veio de um sentimento de emoção reprimido que foi extravasado no culto ou do Diabo! 
 
Que venhamos a discernir entre a verdadeira experiência espiritual da falsa experiência espiritual pautados nas Escrituras, e não nelas mesmas. É a Palavra de Deus que deve nortear toda a nossa vida, e não as experiências espirituais. Se uma experiência espiritual não estiver de acordo com o que diz a Escritura, tal experiência é falsa e deve ser rejeitada. 

Sola Scriptura!!!  

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